A nossa primeira vez numa sauna mista

Descobrir um espaço novo é sempre excitante. E quanto mais decadente, melhor!

O meu braço enrola-se à volta dos teus ombros como uma estola. Conforta-te, mas também te suporta. Tu deixas-te encostar no muro humano que te acompanha enquanto esperamos o retorno do toque da campainha. Passam poucos minutos das quatro da manhã de uma noite chuvosa e fria.

Na rua, deambulam sem rumo as prostitutas, mais do que habituadas à romaria de casais como nós a esta porta, com um SAUNA estampado a toda a sua largura. Passam menos de 30 segundos entre o momento em que o meu dedo pressiona a campainha e aquele em que a porta se abre. Mas para ti parece uma eternidade. O coração bate e a adrenalina invade todos os membros.

Está frio mas não o sentimos. Sente-se apenas o cheiro a incenso e as vibrações de uma música cujos contornos imperceptíveis se escapam por entre as frinchas da porta. Finalmente aberta. Da penumbra surge uma personagem, um misto de homem e mulher, que dá as boas noites e rapidamente corre a refugiar-se num postigo pouco iluminado, que apenas tem uma pequena abertura que serve para receber dinheiro e passar chaves de cacifos.

A porta fecha-se nas nossas costas e prende-nos naquele mundo. Lá fora, as prostitutas continuam a sua rotina. “Primeira vez?”, pergunta-nos a figura andrógena ao mesmo tempo que preenche um pequeno impresso, escolhe uma chave e recebe o dinheiro. Certo, sem troco. Cumpridos os proformas de uma inscrição que nunca constará de qualquer livro de contabilidade, entregamo-nos finalmente ao que nos trouxe aqui.

Ao lado do postigo umas escadas. Fundas. Escuras. Quentes e húmidas, forjadas com um ferro que chia com os teus saltos a baterem nos degraus. O cheiro fica mais intenso a cada degrau que descemos. A música é agora perceptível e percebemos que se mistura com as vozes dos outros ocupantes da sauna. No fundo da escada uma bifurcação. De um lado uma espécie de um bar, com um pequeno buffet e meia dúzia de sombras tapadas apenas com pequenas toalhas que se enrolam à volta da cintura. Do outro lado, um corredor que conduz aos balneários.

Mãos dadas e lá vamos nós. Saída pela mesma entrada do balneário, mas agora com uma rota diferente. Tudo à esquerda para perceber que mistérios escondia aquele espaço, tantas vezes presente em conversas de cama ou fantasias de masturbação. Dark Room, Glory Holes, Sala de Cinema, Cabines 1, 2 e 3.

Nunca consegui fixar o nome dela, mas sei que o disse. Senti uma mão no ombro, não era a tua, e olhei para aquela figura estranha mas ao mesmo tempo fascinante. Uma pessoa transexual com uma grande cabeleira loira, vestido de gala e um sorriso simpático que fez questão de nos encaminhar para este segundo caminho. Depois de algumas explicações básicas sobre a montagem de chinelos e forma de lidar com a fechadura do cacifo deixa-nos sozinhos.

No momento em que sai, a luz azul que iluminava o espaço apaga-se, dando lugar a uma tímida e sensual luminosidade vermelha. É debaixo daquela luz que nos despimos. Em silêncio, tiras o sobretudo e o vestido. Sinto-te envergonhada à medida que despes a roupa interior e te enrolas na toalha, curta em baixo, parca em cima. Extremamente simples e ao mesmo tempo sensual. Imito-te os movimentos e guardo a chave do cacifo no braço, elástico à volta dos bíceps.

Mãos dadas e lá vamos nós. Saída pela mesma entrada do balneário, mas agora com uma rota diferente. Tudo à esquerda para perceber que mistérios escondia aquele espaço, tantas vezes presente em conversas de cama ou fantasias de masturbação. Dark Room, Glory Holes, Sala de Cinema, Cabines 1, 2 e 3.

Deambulamos pelo espaço durante alguns minutos, a tentar descobrir o que nos esperava neste fim de noite. Sentimos em nós os olhos dos vultos, sós ou em casal, que percorrem o espaço. Tal como os animais sentem o cheiro do stress nas suas presas, também no mundo do sexo se consegue distinguir perfeitamente quem está a descobrir novos prazeres. Carne fresca.

Passagem pelo bar e buffet para ganhar coragem e dar tempo aos olhos para se habituarem à penumbra permanente. “Olha, aqui também há um sistema de pulseiras. Cor-de-rosa para quem procura casais, verde para quem quer um trio, amarelo para bissexuais. Qual queres escolher?”, perguntas. “Nenhuma, vamos ver onde o corpo e a tesão nos levam”, respondo, para teu agrado.

O bar é mais do que frugal: um pequeno balcão com três bancos, um Tupperware com um monte de pulseiras coloridas, duas ou três mesas povoadas por dois casais e um homem que conversam em surdina.

Os olhos continuam em cima de nós e parecem cada vez mais. Uma garrafa de água partilhada e seguimos para a sala de cinema que mais não é do que um quarto equipado com uma televisão grande e uns degraus enormes que fazem as vezes de bancos. Sentamo-nos juntos, apertados, num dos cantos. Imediatamente, a sala que estava vazia fica composta.

Atrás de nós entram três homens que se espalham pela plateia. Um mais tímido fica à porta. Está a tocar-se discretamente, afagando a toalha enquanto nos olha. Na televisão passa um filme pornográfico ao estilo de Hollywood. Mas a verdadeira ação desenrola-se do lado de cá do aparelho. Sentado apoiado nas mãos que se estendem atrás das costas semi-arqueadas, como se estivesse na praia a apanhar sol, está um dos homens. A toalha descaída sobre as pernas evidencia uma ereção exibicionista.

A poucos centímetros, um outro toca-se por baixo da toalha e eu mordisco-te levemente o pescoço. A mão vai subindo pela coxa. “Gostas?”, “Sim, mas quero ir ver outras coisas”.

Saímos da sala em direção ao corredor inicial. Agora percebemos que todo o espaço está montado de forma labiríntica. Todos os caminhos vão dar ao sexo. Atravessamos umas venezianas pretas que se estendem até ao chão e entramos no banho turco.

Os pulmões apertam-se com o primeiro bafo de vapor eucaliptado e com o calor do pequeno espaço. Mais uma vez, apesar de estar vazio quando lá entramos, rapidamente se enche de pessoas. Com o calor a forçar o sangue a percorrer com maior vivacidade pelas veias, deixamo-nos estar mais à-vontade. Apesar dos olhos que nos percorrem, trocamos carícias e tocamo-nos. Estás quente, muito quente. O tamanho da minha ereção denuncia a minha excitação. Sinto os teus lábios a brincar e fecho os olhos para melhor desfrutar o momento. Quando os volto a abrir reparo na nossa audiência.

Três homens – não tenho a certeza se são os mesmos da sala de cinema – que se masturbam sem pudor enquanto nos observam. Um deles aventura-se a percorrer as tuas costas com a mão. Sinto-te estremecer ao toque, mas não te mostras incomodada. Eu nada faço. Limito-me a permitir que o corpo entre em delírio com a tua língua. Quando volto a reparar, já os três percorrem alegremente o teu corpo. Mãos em todo o lado. Luxúria em toda a sala.

No meio da excitação alguém abre um preservativo e começa a preparar-se para o colocar, olhos fixos no teu rabo. «Não quero», sussurras-me. Levantamo-nos e ajeitamos as toalhas. Como um cardume de peixes, os homens percebem a movimentação e rapidamente desaparecem. Estamos completamente suados quando saímos. A diferença de temperaturas provoca uma forte ereção nos teus mamilos. Brinco com eles enquanto nos abraçamos debaixo de um chuveiro retemperador. «Estás confortável?» «Estou. Embora seja intimidador é extremamente excitante. Mas preferia uma coisa mais calma, intimista».

Regressamos ao bar para nos hidratarmos e fazer nova avaliação da população da sauna. Já não há casal. Passámos por eles exatamente quando se fechavam numa das cabines. Por entre a porta, consegui contar os participantes na orgia vindoura: uma mulher e um, dois, três, quatro homens. “Alguém vai ter uma experiência interessante”, solto em jeito de brincadeira. Sozinhos no bar, tentamos acertar uma estratégia. Vamos com calma, vamos convidar alguém para “brincar” connosco. Perscrutamos a sala vazia.

São quase seis da manhã e os vultos desapareceram quase completamente, entregues ao desejo do corpo nas várias salas temáticas e gabinetes do espaço. Voltamos à sala de cinema. Agora completamente sozinhos. O filme parece não ter saído da mesma cena. À porta, um homem olha-nos timidamente. Começamos a trocar carícias e pões-te numa posição em que ficas com o rabo virado para a porta, virado para ele. Faço um sinal com a cabeça para que se aproxime e ele chega perto de nós. Toca-te e toca-me. Já não há pudor, as toalhas estão abertas. “Vamos para um sítio mais tranquilo”, sussurro.

Rapidamente chegamos a uma das cabines, um pequeno quarto escuro com uma cama forrada a napa a um canto, um dispensador de lenços de papel, um pequeno caixote do lixo e uma luz difusa sobre uma televisão que passa a mesma cena do mesmo filme que roda na sala de cinema desde o início desta noite. Estendemos as toalhas sobre a napa e tiramos os chinelos. Deitas-te de costas e deixas que o nosso novo “amigo” te beije suavemente o corpo. Primeiro lentamente, discreto. Depois, de uma forma quase frenética e ruidosa, sorvendo e lambendo, com a fome de quem vagueou durante muito tempo pela sauna à espera de um momento como este.

Arqueias as costas com o prazer. Estás em delírio. Não consigo controlar-me e poucos minutos depois expludo dentro da tua garganta, uma explosão simultânea com a que estás a ter tu também. Eu venho-me, tu vens-te, ele vem-se.

A conjugação do verbo é sinónima de fim de festa. Pelo menos durante alguns minutos. O nosso conviva levanta-se, limpa-se e sai discretamente do quarto, deixando-nos num momento solitário, de comunhão entre duas pessoas que estão na mesma sintonia cósmica. Fazemos amor ali mesmo, uma vez mais antes de sair. Agora estamos só os dois, mas é ainda mais fantástico. Sempre foi. Todos estes anos de sexo e loucura, os momentos que temos a dois depois de estarmos com outras pessoas são sempre os melhores.

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