Afinal, o que significa ser “do meio”?

Um single masculino que procura casais apenas para ter uma interação com o elemento feminino é “do meio”? E os casais formados por amigos que saem juntos para beneficiar do rótulo de casal, também são “do meio”?

Toda a gente que, em algum momento da sua vida, adotou um estilo de vida mais liberal, acaba por dizer que é “do meio”, que pertence “ao meio” ou que se move “no meio”. Mas afinal, que “meio” é este? Já fiz esta pergunta a várias pessoas e a resposta é sempre muito genérica. E isso acontece porque “no meio” cabe tudo. Ou quase tudo.

Quem anda “no meio” sabe que “o meio” é composto por vários “meios”. Pequenos grupos com caraterísticas específicas. Para exemplificar: há os swingers tradicionais, os da troca fechada, há os liberais, que se permitem a mais excentricidades. Temos os fetishistas e as pessoas mais ligadas ao BDSM. Os que frequentam clubes e os preferem as festas privadas. Os que são fãs dos encontros casuais depois de longas conversas em Apps e sites. E também há alguns singles, masculinos e femininos.

Pode considerar-se que todas estas pessoas, ou grupo de pessoas, pertencem ao “meio”, ainda que “o seu meio” não seja exatamente igual. Porque o reconhecimento, o respeito e a devoção à propagação da etiqueta de um estilo de vida liberal acaba por uni-los, mesmo que nunca se cruzem fisicamente.

Ou seja, na minha opinião, é “do meio” quem tem uma abordagem liberal da sua vida sexual, da sensualidade e do erotismo, compreende e segue os padrões de respeito que “o meio” exige, incluindo o respeito pelas diferenças. Quem aborde o tema de uma forma pedagógica e não impositiva. E também que, pelo menos, do meu ponto de vista, frequente algum tipo de locais associados ao “meio”.

Isto leva-me a um conjunto de dúvidas que me parecem relevantes. Um single masculino que procura casais apenas para ter uma interação com o elemento feminino é “do meio”? E os casais formados por amigos que saem juntos para beneficiar do rótulo de casal, mas que não têm qualquer ligação emocional entre si, também são “do meio”? E pode considerar-se “do meio” um single que vá a clubes nessa condição, mas que tem mulher em casa? E quem nunca sai do mundo online para a realidade dos encontros e interações? Também é “do meio”?

Ser homem, ser casado, e sair sozinho para procurar estar com casais – em clubes, saunas ou outros contextos – não é ser swinger nem ser “do meio”. É só ser infiel.

Bem sei que “o meu kink pode não ser o teu kink”, mas desculpem, não posso considerar que estas pessoas sejam consideradas “do meio”. Vou ainda mais longe. Acho que este tipo de personagens contribui para tirar algum do glamour que “o meio” ainda tem.

Ser homem, ser casado, e sair sozinho para procurar estar com casais – em clubes, saunas ou outros contextos – não é ser swinger nem ser “do meio”. É só ser infiel. Da mesma maneira que ir passear com amigos ou amigas que variam consoante o dia da semana a espaços liberais não é “ser do meio”. Porque isso, na minha opinião e experiência, leva a que, no momento das interações haja um desprendimento emocional do outro, algo que nunca sucede com os casais que são verdadeiramente swingers.

O mesmo se aplica a quem vive no mundo online. Por mais fotografias que carreguem no vosso perfil, por muitas conversas e fantasias que tenham, se não as concretizam, se não materializam essa vontade expressa, não podem ser considerados “do meio”.

Isto não quer dizer que “o meio” seja elitista ou que segregue numa base de rótulos. Nada disso. Significa, isso sim, que “o meio” é seleto. Que permite muito e exige pouco, mas o que exige tem de ser sólido. Porque é este o mecanismo de defesa e sobrevivência “do meio”.

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