Criou uma sex shop online antes do boom da Internet – e lidera o mercado dos brinquedos sexuais em Portugal há mais de 20 anos

Pedro Correia fundou a loja online da Vibrolândia aos 28 anos, numa altura em que apenas 260 mil pessoas em Portugal tinham acesso à Internet. Naquele tempo, as sex shops eram mal vistas e até descritas na lei como espaços de venda de “produtos obscenos”. A obstinação compensou. E muito.

Em 2002, os portugueses ainda estavam a tentar memorizar as diferenças entre as várias moedas e notas de euros, que tinham acabado de chegar às suas carteiras. Era o tempo em que toda a gente ainda fazia conversões mentais para escudos antes de pagar qualquer coisa com a nova moeda única europeia. Não havia Facebook, Instagram ou Youtube. Nem qualquer outra rede social como as conhecemos hoje.

Existiam apenas alguns programas de chat – como o ICQ e uma versão muito embrionária do que viria depois a ser o MSN Messenger. No entanto, para a vasta maioria dos portugueses, era como se não existissem. É que, em 2002, a Internet era um luxo que só chegava a pouco mais de 260 mil utilizadores em todo o País, de acordo com os dados da ANACOM. E se poucos sabiam o que era a Internet, muito menos sabiam que, por ali, se podia fazer encomendas, pagar e receber depois em casa o que tinham comprado.

Mas, se no caso da Internet, o problema era o desconhecimento ou a falta de acesso, no caso das sex shops o panorama era ainda menos favorável. Descritas na lei de então como “estabelecimentos de exposição e venda de produtos de conteúdo pornográfico ou obsceno”, só em 2006 é que estas lojas deixaram de ser obrigadas a ter licenças especiais para funcionar. Em 2002, eram mal vistas e quem as frequentava era automaticamente acusado de ser tarado.

Foi neste contexto que, precisamente, em 2002, um jovem programador informático decidiu fazer o impensável: abrir uma sex shop online. Pedro Correia tinha 28 anos quando tomou esta decisão. À Kinks, conta que “tudo começou com uma brincadeira entre amigos”. “Não fizemos estudos de mercado nem nada do género, mas decidimos apostar porque achámos que era uma boa área de negócio. Começámos, mas sem grandes perspectivas”, revela, recordando que o facto de ser programador ajudou a dar o primeiro passo: “ao menos não tive de gastar dinheiro com o site, porque fui eu que o criei”. Nascia, assim, a Vibrolândia.

“Não fizemos estudos de mercado nem nada do género, mas decidimos apostar porque achámos que era uma boa área de negócio. Começámos, mas sem grandes perspectivas”

Segundo explica Pedro à Kinks, a aposta naquela loja online “foi mais numa do vamos ver se isto dá alguma coisa”. E deu. Hoje, 22 anos desde que tomou a decisão de avançar, entre o golpe de vista e alguma obstinação, a Vibrolândia de Pedro Correia – agora com 50 anos – é a maior marca de venda artigos para adultos do País.

Líder no mercado nacional dos brinquedos sexuais (e outros produtos de entretenimento para adultos) desde 2003, altura em que criou a empresa, a Vibrolândia também foi pioneira na abertura de sex shops físicas em Portugal. A primeira loja, em Albarraque, Sintra, já está a caminho de completar 19 anos.

Longe vão os tempos em que Pedro era o responsável de uma pequena empresa. Atualmente, a marca conta com um centro logístico em Sintra, com cerca de 400 metros quadrados, onde está o stock de quase cinco mil produtos diferentes, e que através de uma operação bem montada demoram 24 horas – ou menos – a chegar a casa de quem os compra a partir do seu smartphone ou do conforto do seu sofá.

A loja física da Vibrolândia, em Sintra, já está a caminho de completar 19 anos.

Quem já comprou os produtos da Vibrolândia online, seguramente já recebeu em sua casa uma encomenda de Pedro Correia. Literalmente. É que todas as encomendas que saem do centro logístico da Vibrolândia – sejam brinquedos sexuais para ambos os géneros, lingerie, lubrificantes ou jogos eróticos – têm como remetente identificado o CEO e fundador da marca. Assim mesmo, em nome próprio.

À Kinks, Pedro recorda que os primeiros tempos foram difíceis, muito por culpa da mentalidade da maioria das pessoas, que viam “com muito maus olhos as sex shops e tudo o que tivesse que ver com sexo”. Mas também pela dificuldade que era chegar aos seus clientes numa altura em que, como se viu, a Internet não estava em todo o lado. “Na altura apostámos muito na publicidade online, mas até aí havia poucos locais para fazer publicidade. O Sapo era o portal mais utilizado em Portugal, por isso fizemos lá muita publicidade e isso custou-nos imenso”, recorda, lembrando o enorme “risco” que correu com a sua estratégia de marketing.

“Também não havia influencers como há hoje”, conta à Kinks o empresário que apostou numa versão quase analógica de influenciadores. “Tínhamos de apostar nas pessoas que eram famosas. Lembro-me que o Alexandre Frota [ator brasileiro] participou num reality show. Como ele tinha feito uns filmes porno, fartámo-nos de vender os filmes dele. Na altura foi uma loucura”, revela.

Atualmente, a marca conta com um centro logístico em Sintra, com cerca de 400 metros quadrados, onde está o stock de quase cinco mil produtos diferentes, e que através de uma operação bem montada demoram 24 horas – ou menos – a chegar a casa de quem os compra a partir do seu smartphone ou do conforto do seu sofá.

Curiosamente, Pedro diz que não nota grandes diferença entre os padrões de consumo do tempo em que criou a Vibrolândia e os que se verificam hoje. “Continua a haver muitos homens que compram brinquedos e outros produtos para oferecer às mulheres, e também muitas mulheres que compram para si”, explica, salientando que a maior mudança que sentiu foi que “atualmente, há mais homens que procuram brinquedos para eles próprios”.

Se no início, o problema era a falta de penetração de Internet na casa das pessoas e a forma de se fazer notar, hoje, o grande desafio para Pedro Correia, é manter o seu negócio relevante num mundo dominado por gigantes do comércio online, como é o caso da Amazon, da Shein ou da Temu. “Se formos tentar competir diretamente com eles, não temos hipótese”, assinala.

Mas, se há coisa que as últimas duas décadas provaram, é que Pedro não é um homem de baixar os braços e desistir. Pelo contrário. À Kinks diz que o segredo não passa por remar contra a maré, mas antes contorná-la. “Temos de apostar mais na qualidade do serviço, na satisfação do cliente, na rapidez das entregas, na possibilidade de oferecer garantias ao cliente”, sublinha, explicando que é exatamente por esta razão que vê no seu centro logístico um ponto forte do seu negócio: “é a partir daqui que fazemos distribuição para todo o País”, adianta à Kinks, revelando que faz questão de trabalhar com stocks próprios, uma vez que é isso que garante a rapidez de entrega, assim como a embalagem própria, cujo conteúdo não é identificável e que aumenta a sensação de sigilo e conforto por parte dos clientes.

Pedro Correia destaca ainda o papel que as lojas físicas têm e vão continuar, na sua opinião, a ter neste mercado. “As lojas físicas não vão desaparecer, porque as pessoas gostam de ter um local onde possam ver, tocar e saber mais sobre o que vão comprar. O facto de haver um sítio físico onde se pode apalpar e mexer é uma mais-valia”, assegura, convicto que ao contrário do que aconteceu com os clubes de vídeo, as sex shop físicas não vão desaparecer: “os clubes de vídeo desapareceram porque a tecnologia deixou de existir. Não é isso que se passa com as sex shops”.

Tem um centro logístico com 400 metros quadrados, de onde saem para entregas em todo o País os 5 mil produtos diferentes que a Vibrolândia disponibiliza.

Esta crença leva Pedro a percorrer o mundo e a estar presente em todos os grandes eventos e feiras internacionais do mercado dos brinquedos sexuais, para garantir que está sempre o mais atualizado possível. Uma filosofia que sempre procurou estender aos funcionários das suas lojas. “Todos os funcionários recebem workshops de marcas, formação da marca e formações internas nossas para poderem saber do que falam e ajudar a esclarecer todas as dúvidas dos nossos clientes”.

O proprietário da Vibrolândia não se mostra preocupado com o futuro do negócio, mas não evita deixar escapar um desejo. “Gostava que o mercado continuasse a evoluir, mas com menos negatividade associada”, explica à Kinks, recordando que apesar de todos o progressismo a que assistimos hoje, “ainda há a muito a ideia de que a sex shop é um espaço para depravados e não é nada disso. É o contrário: se as pessoas forem de mente aberta pode ser muito interessante”.

Para reforçar este seu ponto de vista, Pedro Correia revela que a Vibrolândia tem, inclusivamente, um protocolo com o Instituto Português de Oncologia. “Fornecemos produtos para pessoas que estão em recuperação de cirurgias e outros tratamentos e para quem estes produtos são muito importantes para voltarem a ter uma vida sexual saudável e satisfatória”, conclui.

Mais Kinks