Fã de dogging: “Já perdi conta às horas que passei no carro, à espera de uma oportunidade”
Todas as noites passa horas a circular em parques de estacionamento à procura de casais que estejam disponíveis para ter sexo em público com estranhos. Já foi ameaçado, já apanhou sustos, mas confessa que não se farta.
Tem 37 anos e trabalha no departamento de marketing de uma empresa da Grande Lisboa. Apesar de ter uma vida normal e “relativamente aborrecida”, Pedro (nome fictício) tem um pequeno segredo. É “quase viciado” em dogging, confessa à Kinks. Praticamente todas as noites, depois do jantar, o homem pega no seu carro e vai aos locais onde a prática do sexo em público com desconhecidos é uma realidade.
“Já perdi conta às horas que passei no carro, à espera de uma oportunidade para estar com alguém”, conta à Kinks o marketeer. As noites são divididas entre os vários parques de estacionamentos das praias na Costa da Caparica e o parque de estacionamento adjacente ao Estádio Nacional, no Jamor. Foi aqui que o encontrámos e ouvimos as suas histórias de “dogger veterano”.
À Kinks conta que foi através da Internet que teve o seu primeiro contacto com o dogging, “há uns três ou quatro anos”. “Sempre fui um voyeur e a ideia de encontrar casais ao acaso para fazer sexo excita-me imenso”, revela, explicando que depois de algumas pesquisas conseguiu identificar os locais favoritos dos praticantes de dogging na zona de Lisboa.
“Na primeira vez que saí – uma noite de verão, a meio da semana –, senti-me muito nervoso e inseguro. Estacionei o carro e acendi um cigarro. Pouco depois percebi que havia um grupo de meia dúzia de homens reunidos à volta de um carro, a cerca de 50 metros do sítio onde estava”, recorda, revelando que demorou alguns minutos para ganhar coragem para sair da sua viatura e aproximar-se. “Era o carro de um casal. Ele estava sentado no banco do condutor, sem fazer nada, enquanto a mulher se envolvia com os vários homens”.
Depois desta primeira experiência não parou mais. “É como uma droga. A adrenalina de pensar que pode acontecer alguma coisa é o que me faz vir aqui tantas vezes”. Mas aponta que, ao contrário do que sucedeu na sua primeira vez, são mais as noites em que nada se passa do que aquelas em que há algum tipo de ação.
“Uma vez tive sexo com uma mulher na parte de trás de um BMW X5, enquanto o marido esperava, sentado no lugar do condutor a ouvir rádio”
“Já passei centenas de horas da minha vida sentado em parques de estacionamento onde nada acontecia – mas não me ia embora com medo de poder aparecer um casal poucos minutos depois de eu ter saído”. “Também já estive muitas vezes estacionado ao lado de carros com casais que não estava à procura de sexo com estranhos. Estavam só a conversar ou a comer qualquer coisa rápida antes de ir para casa”, revela o homem, confessando que muitas vezes fica na rua até às duas da manhã, mesmo que isso implique “dormir pouquíssimo e ir trabalhar no dia seguinte a parecer um zombie”.
Hoje, já um veterano do dogging, diz que consegue distinguir melhor quando um carro com um casal está apenas de passagem ou se está à procura de companhia. Revela que os casais têm diferentes formas de fazer com que os voyeurs saibam que podem aproximarem-se: ligar e desligar os máximos, ou acender e apagar as luzes interiores são os dois mais fáceis de identificar. “Uma janela aberta significa que se pode mexer e a porta do passageiro aberta é um convite para haver sexo com a mulher”, acrescenta.
“Pedro” partilhou com a Kinks alguns dos seus momentos mais memoráveis. “Uma vez tive sexo com uma mulher na parte de trás de um BMW X5, enquanto o marido esperava, sentado no lugar do condutor a ouvir rádio”, recorda. “Noutra altura, um casal bateu à minha janela a dizer que tinham o ar condicionado avariado e perguntaram se podiam sentar-se um pouco no meu carro, ‘para refrescar’. Disse que sim e acabei a ter sexo com a mulher do tipo”.
Mas nem sempre as noites correm bem. “Já fui ameaçado e até perseguido”, conta à Kinks. “Uma vez um homem ameaçou-me de porrada, porque me estava a aproximar de um casal em quem ele estava interessado. Também já tive um outro a tentar bater com o carro dele no meu, e depois a perseguir-me durante algum tempo, por causa de uma situação semelhante. Isto apesar de eu ter chegado primeiro”, lembra.
“Uma vez um homem ameaçou-me porque me estava a aproximar de um casal em quem ele estava interessado. Também já tive um outro tipo a tentar bater com o carro dele no meu e depois a perseguir-me durante algum tempo, por causa de uma situação semelhante, apesar de eu ter chegado primeiro”
Mesmo depois de ter vivido estes episódios, considera que a maior parte dos homens que se consideram “doggers” são educados e, embora não os considere seus amigos, confessa que já tem vários conhecidos que encontra nas suas incursões noturnas. “Normalmente partilhamos histórias ou falamos sobre os locais onde está a haver mais ação”, partilha.
Em conversa com a Kinks, diz que as pessoas que, tal como ele, saem à procura de sexo com desconhecidos, “não são pervertidos nem inadaptados sociais”. “Muitos conduzem bons carros, têm empregos normais e vivem nos subúrbios”, explica, sublinhando que “São o tipo de pessoas que vivem ao nosso lado ou que trabalham connosco. O que todos têm em comum é o facto de se excitarem com a emoção de fazer sexo em público”. “São pessoas de todas as idades, formas, tamanhos e origens”, conclui.
Aproveite para ficar a saber mais sobre esta prática e leia o artigo que a Kinks publicou sobre dogging.