Mais de metade dos portugueses vive insatisfeito com a sua vida sexual

E quase um terço das pessoas não tem qualquer tipo de atividade sexual. Estas são algumas das conclusões de um inquérito conduzido pelo Grupo de Investigação em Sexualidade de Género, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.

Quando questionados acerca de como avaliam a sua vida sexual ao longo do último ano, 53,3% dos portugueses revelou que se sente insatisfeito ou muito insatisfeito. Este é um dos resultados de um inquérito conduzido pelo Grupo de Investigação em Sexualidade de Género, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, agora divulgado.

O SHAPE – Questionário de Avaliação das Práticas e Experiências de Saúde Sexual foi criado pela Organização Mundial de Saúde, em 2023, e foi colocado a um conjunto de 2.010 portugueses (dos quais 52,2% mulheres e 47,7% homens, com idades entre os 18 e os 95 anos). O responsável pela aplicação deste questionário, Pedro Nobre, explica que esta se trata de “uma amostra representativa e que engloba todas as características e variáveis socioeconómicas” da população portuguesa.

Os resultados do estudo conduzido pela equipa liderada pelo professor da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, a que a Kinks teve acesso, revelam que apenas 26,8% dos inquiridos sente “satisfação ou muita satisfação” com a sua vida sexual. 19,8% revela sentir-se “razoavelmente satisfeito”.

Do total de inquiridos, 34,9% revelou aos investigadores não ter tido qualquer tipo de atividade sexual – a sós ou com um parceiro – nas quatro semanas que antecederam a realização do inquérito. O SHAPE revela ainda que, em média, os portugueses têm atividade sexual 5,3 vezes em cada mês – incluindo a masturbação –, e destaca que, para um terço das pessoas, a atividade é inferior a 5 vezes por mês.

O estudo, agora divulgado, vai ainda mais fundo na análise da cultura sexual nacional. As conclusões reveladas pelos investigadores indicam que 13,7% dos inquiridos nunca se masturbou. Já no que diz respeito a sexo oral, 14,1% afirmou nunca ter recebido sexo oral, e 16,6% revelou nunca ter feito sexo oral a outra pessoa.

As conclusões reveladas pelos investigadores indicam que 13,7% dos inquiridos nunca se masturbou e que 14,1% das pessoas que participaram neste estudo nunca recebeu sexo oral.

Os dados do SHAPE indicam ainda que 9% dos participantes neste inquérito revelou já ter tido, pelo menos, uma experiência sexual com uma pessoa do mesmo género. O estudo indica ainda que 2,7% dos inquiridos nunca teve qualquer tipo de experiência sexual com outra pessoa, embora os dados recolhidos apontem que, em média, os portugueses tenham contacto sexual com 12,2 pessoas diferentes ao longo da sua vida.

Outro dado preocupante revelado por esta investigação diz respeito aos problemas relacionados com o sexo. 20% dos inquiridos revelou ter “dificuldades sexuais que causam sofrimento significativo”, sendo as mais comuns as dificuldades de ejaculação nos homens (que afetam 11,7% dos participantes), a dificuldade de atingir o orgasmo, no caso das mulheres (11,3%). Mais de 10% das mulheres reportou sentir dor durante o sexo, e 8,7% revelaram que têm dificuldade em excitar-se. A disfunção erétil (10,4%) e a ejaculação precoce (7,1%) são outros dos problemas mais frequentemente relatados pelos homens.

Face aos resultados obtidos pelo SHAPE, Pedro Nobre, que é também professor da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto revela que o objetivo é agora “criar em Portugal um Observatório de Saúde Sexual” que permita “avaliar a evolução dos indicadores de saúde sexual e dos comportamentos sexuais” na população portuguesa para “ajudar a desenvolver e implementar políticas públicas que promovam a saúde e os direitos sexuais” de todas as pessoas.

“Perceber que 50% da amostra se sente insatisfeita com a vida sexual é surpreendente e é preciso pensar na razão pela qual isso acontece, até porque muita dessa insatisfação está ligada a sofrimento e não a problemas sexuais”, refere o docente.

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