“O dogging é uma forma de apimentar as nossas noites”. Histórias de um casal nos estacionamentos de Lisboa
Tiago e Fernanda partilharam com a Kinks como se tornaram fãs deste fetiche que tem cada vez mais praticantes no nosso País.
“Já tínhamos fantasiado várias vezes sobre ter sexo no carro à frente de estranhos, mas sem nunca o concretizar, até aquela noite”. A confissão é de Tiago e Fernanda, um casal de Lisboa partilhou com a Kinks a forma como se tornaram fãs de dogging. Este fetiche que tem como premissa principal envolver-se em atividades sexuais num local público ou semi-público, normalmente envolvendo um carro e um, ou mais, participantes desconhecidos, e que tem vindo a ganhar cada vez mais praticantes no nosso País.
O casal, de 54 e 48 anos, respetivamente, recorda que, naquela noite, a vontade falou mais alto que o receio: “estávamos no pico do verão, a noite estava quente, nós já tínhamos bebido um pouco além da conta e pareceu-nos uma boa ideia”, brinca Fernanda. Foram até à zona de estacionamento adjacente ao Estádio Nacional, no Jamor, em Oeiras, e estacionaram o carro. “Nem tínhamos começado a fazer nada e apercebemo-nos logo que já estavam dois ou três homens a aproximar-se do carro, no escuro”, lembra a mulher, admitindo que, nessa primeira vez, sentiu medo de ter “levado a fantasia longe demais”.
“Quando vimos aquelas pessoas a aproximar-se ligámos o modo de pânico e arrancámos”, conta Tiago, lembrando que deram “mais quatro ou cinco volta ao estacionamento até decidirem levar a experiência avante”. “Depois correu tudo bem. Tivemos sexo no carro – que ficou sempre ligado, para podermos escapar rapidamente, caso fosse necessário – com quatro homens do lado de fora, a olhar para nós e a masturbar-se”, revela à Kinks, confessando que quando chegaram a casa estiveram horas a falar sobre a experiência e quanto prazer lhes tinha dado.
“Não sei, estávamos numa fase em que queríamos experimentar coisas novas, e o dogging surgiu como uma forma de apimentar as nossas noites”, afirma Fernanda, revelando que, desde então, o casal vai a zonas de dogging “pelo menos, uma vez por mês”. Segundo Tiago, “a excitação do dogging vem tanto do ato sexual em si em público, quanto da sensação de estar a ser observado. É muito diferente de estarmos juntos entre quatro paredes”. “A adrenalina de não saber quem pode estar a ver, de ter várias pessoas à volta do carro, é o que mais nos excita nestas situações”, complementa Fernanda.
“Há toda uma comunidade de praticantes e, ao longo do tempo, aprendemos quais são os spots mais seguros e concorridos. Muitos deles [dos homens] já reconhecem o nosso carro, quando chegamos parece que somos estrelas de cinema”
Já passaram dois anos desde aquela noite no Jamor e hoje, com mais experiência, Tiago e Fernanda sentem-se mais à vontade no dogging. “Há toda uma comunidade de praticantes e, ao longo do tempo, aprendemos quais são os spots mais seguros e concorridos”, partilha Tiago, revelando que as noites exibicionistas do casal se dividem entre a zona do Estádio Nacional e o estacionamento das praias perto da Costa da Caparica, na Margem Sul.
“Muitos deles [dos homens] já reconhecem o nosso carro, quando chegamos parece que somos estrelas de cinema”, graceja Fernanda, explicando que a dinâmica do casal é quase sempre a mesma. “Procuramos um sítio em que consigamos ver quem se aproxima, ligamos um pouco as luzes interiores do carro para que percebam que somos um casal, e começamos a ‘brincar’”. Depois deste acender de luzes interiores – que na etiqueta do dogging sinaliza a disponibilidade de ser observados – os homens que estiverem no local, aproximam-se do carro do casal.
Tiago diz que “99% das vezes”, estes homens ficam só a ver, do lado de fora. “Houve uma ou outra vez que abri um pouco a janela para que pudessem tocar na Fernanda enquanto estávamos juntos, mas é muito, muito raro. Só aconteceu porque a pessoa que estava do lado de fora já era nossa ‘conhecida’ daquele local, por assim dizer”, explica à Kinks.
“Não sei como é que eles se organizam, mas parece que há ali um código de autorregulação. Até porque, se houver pessoas que se portam mal, os casais não aparecem”
Apesar de terem perdido o medo que sentiram na primeira experiência de dogging, Tiago e Fernanda recordam que já tiveram situações desconfortáveis e até assustadoras, “principalmente com pessoas que batem no vidro, a pedir para abrir a janela ou a porta. Isso estraga completamente o momento. Quando acontece, vamos embora imediatamente”. “A pior de todas foi uma vez que nos apercebemos que um dos carros que estava no estacionamento vinha a perseguir-nos, quando já estávamos a caminho de casa”, recorda Tiago, que admite ter ficado com medo “a sério”. Só quando se começaram a dirigir para um posto da GNR que havia nas proximidades é que o outro carro mudou de direção: “isto lembra-nos sempre que é um jogo de risco, por mais excitante que seja. Desde esse dia tornámo-nos ainda mais cuidadosos”, afirma.
“Vamos cada vez mais só aos mesmos sítios, onde está sempre uma ou duas caras conhecidas. Não sei como é que eles [os homens] se organizam, mas parece que há ali um código de autorregulação. Até porque, se houver pessoas que se portam mal, os casais não aparecem”, diz Tiago, referindo que, apesar de tudo, nos últimos meses, se têm cruzado com cada vez mais casais nestes locais, “especialmente durante os meses do verão”.