O fetiche popular entre os jovens que pode provocar lesões irreversíveis (e fatais)

A asfixia erótica tem ganho cada vez mais fãs entre as pessoas com idade inferior a 35 anos. A culpa, dizem os especialistas, é da pornografia, mas não só.

Há uma nova tendência crescente no sexo entre as pessoas mais novas que está a preocupar vários especialistas. A asfixia erótica – ou “choking” (estrangular, numa tradução livre) como é mais conhecido – é um dos fetiches que tem vindo a registar um dos mais exponenciais aumentos de adeptos em todo o mundo. O problema é que esta é uma prática que, se não for realizada de forma consciente e por pessoas com conhecimentos profundos sobre o assunto, pode levar a graves e irreversíveis lesões cerebrais e, no limite, à morte.

Os números não mentem. Um estudo recentemente divulgado pela Universidade de Melbourne, na Austrália, analisou as preferências sexuais de 4700 pessoas, com idades entre os 18 e os 35 anos. As conclusões revelam que 57% dos participantes disse ter sido asfixiado, pelo menos uma vez; e 51% confessou ter também asfixiado um parceiro, pelo menos uma vez, durante o sexo.

Um outro estudo, publicado em 2019 no Journal of Sexual Medicine, refere que cerca de 36% das mulheres e 31% dos homens relataram ter praticado alguma forma de asfixia erótica. Já um inquérito realizado pelo Instituto Kinsey, em 2021, revelou que cerca de 45% dos inquiridos com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos já tinham experimentado asfixia – ou estavam interessados em experimentar esta prática no sexo.

A culpa, dizem os cientistas, é em grande parte da pornografia, que normalizou esta prática. Este apontar de dedos pode não estar totalmente longe da realidade: segundo o Pornhub Insights, entre 2016 e 2020, houve um aumento de 200% nas pesquisas relacionadas com asfixia erótica naquele que é o maior site de conteúdo pornográfico do mundo. E quem foi responsável pelo aumento das pesquisas sobre o tema? De acordo com a plataforma, os espetadores com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos.

Os especialistas referem que esta normalização do “choking” nas cenas de sexo na pornografia – mas também nas séries de televisão e nos filmes – faz com que a prática pareça mais aceitável e intrigante. Isto porque a asfixia pode aumentar a excitação e intensificar os orgasmos, tornando-a apelativa para quem procura novas formas de aumentar o seu prazer sexual.

Um estudo estimava que, só nos Estados Unidos, ocorressem entre 250 e mil mortes relacionadas com “choking” todos os anos. E afirmava que estes números são conservadores, já que grande parte das mortes é classificada como acidente, não havendo investigações adicionais.

Mas se a excitação é grande, os riscos são ainda maiores. A asfixia restringe o fluxo de oxigénio para o cérebro, o que pode levar à perda de consciência, a danos cerebrais ou mesmo à morte. Ou seja, as pessoas podem achar que é apenas sexo, mas este é um fetiche com contornos muito perigosos.

Além destes riscos, é preciso ter em conta que o pescoço é uma zona vulnerável e uma pressão excessiva pode causar lesões graves. No calor do momento, os parceiros podem não conseguir comunicar o seu desconforto de forma eficaz e isso pode ter consequências trágicas.

Não há muitos dados relativos ao tema, uma vez que muitas das mortes que ocorrem como resultado da prática deste fetiche são classificadas como acidentes, mas um estudo publicado em 2010, no “Journal of Forensic Sciences”, estimava que, só nos Estados Unidos, ocorressem entre 250 e mil mortes relacionadas com “choking” todos os anos.

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