Os truques dos casais liberais para evitar que os ciúmes arruínem a relação

A Kinks pediu a dois casais “veteranos” para partilharem as regras de ouro que devem ser seguidas por todos os casais que gostam de ter um lifestyle liberal.

Quando se fala do “Lifestyle”, da vida liberal ou de casais swingers, o tom é normalmente positivo, quase glamoroso. E se é verdade que, na maior parte dos casos, esta vertente pode ser uma forma de fortalecer relações e de permitir que as pessoas tenham uma vida sexual com maior satisfação, também é verdade que nem sempre tudo corre bem.

Este é um tema cuja abordagem causa algum desconforto entre os membros da comunidade swinger, mas que, efetivamente, merece alguma atenção. O desconhecimento do que é o mundo do swing, a incapacidade de lidar com os ciúmes, o desequilíbrio nas interações com outros casais ou, simplesmente, o facto de um casal poder não estar bem na sua relação de uma forma geral, são alguns dos motivos para que a experiência swinger se possa transformar num verdadeiro pesadelo.

Para perceber de que forma é que os swingers mais experientes lidam com estes temas, a Kinks falou com dois casais que estão por dentro do Lifestyle há vários anos e que partilham os seus segredos, dicas, truques e regras para que as coisas corram sempre bem. Paulo e Sara, de 45 e 42 anos, já fazem parte da comunidade há quase duas décadas e dizem que também eles se debateram, “em algum momento, com cada um destes problemas”.

“A primeira coisa que é importante as pessoas compreenderem é que nem todos têm de praticar swing. Há quem não se sinta confortável a ver outras pessoas envolverem-se sexualmente à sua frente, quanto mais participar”, sublinha Paulo, frisando que “uma das situações mais frequentes é encontrar casais em que um dos elementos quer muito fazer parte daquele mundo e o outro não. Claro que isto só pode correr mal”. “Já assistimos a várias situações que podiam ter sido muito desagradáveis por causa deste problema de comunicação ou de coação de uma pessoa – normalmente o homem – sobre o outro”, revela.

Também Joana e Diogo, de 34 e 32 anos, identificam este como o principal elemento de discórdia entre casais nos clubes ou outros ambientes liberais. “Já frequentamos o meio há uns 12 anos e perdemos a conta aos casais que conhecemos em que o elemento masculino quer tanto participar e estar com outras pessoas que, simplesmente, não se preocupa com a sua companheira”, revela Joana, que aponta ainda o dedo a “alguma hipocrisia de muitos destes homens”: “querem envolver-se com as mulheres dos outros, mas não aceitam que outros casais – nomeadamente o elemento masculino – se aproxime da sua esposa. E também não suportam a ideia de a companheira ter vontade de se envolver com outros homens”. “Isto é a receita perfeita para o desastre”, assegura Diogo.

“Felizmente, os verdadeiros swingers já reconhecem muito facilmente este tipo de dinâmicas e criaram uma espécie de mecanismo de defesa da comunidade para se protegerem e evitarem situações incómodas”, adianta Sara, explicando que “rapidamente estes casos acabam por ser isolados de forma discreta”. “Acabam por desaparecer. E ainda bem”, remata.

“Já perdemos a conta aos casais que conhecemos em que o elemento masculino quer tanto participar e estar com outras pessoas que, simplesmente, não se preocupa com a sua companheira”

Isto não quer dizer que um casal que já seja “veterano” no mundo do swing não tenha os seus próprios dilemas e dificuldades. “Somos pessoas, temos sentimentos, nada aqui é mecânico, por isso pode sempre haver conflito. O segredo está em identificar as potenciais causas desses conflitos e antecipá-los ou, pelo menos, criar mecanismos de comunicação entre os elementos do casal para que quando estes surgem sejam facilmente desconstruídos”, adianta Paulo, que revela à Kinks que, desde que ele e Sara se envolveram na vida liberal, criaram um conjunto de regras que seguem “à risca” até hoje.

Também Joana e Diogo têm as suas regras: “não quer dizer que funcione com toda a gente, mas connosco ajuda bastante a eliminar a ansiedade nos momentos mais tensos e, acima de tudo, a afastar o fantasma dos ciúmes, que é o grande inimigo dos casais swingers”, diz Diogo.

A Kinks pediu a estes dois casais que partilhem algumas das suas regras e truques que garantem que as noites correm sempre bem. Aqui ficam sete regras de ouro que, segundo estes swingers, devem ser seguidas por todos os casais que gostam de ter um lifestyle liberal:

Não saiam quando não estão numa fase boa da vossa relação

“Todas as relações têm os seus altos e baixos, toda a gente sabe isso. Se estamos numa fase de maior crispação, em que não estamos particularmente românticos um com o outro, estar com outras pessoas não é uma boa ideia”, explica Joana. Uma visão que é, integralmente, partilhada por Paulo: “se estamos aborrecidos um com o outro, não é num clube que vamos fazer as pazes, até porque a tolerância baixa e a tendência para desenvolver ciúmes é maior”, refere, salientando que, “nestes casos, é preferível fazer uma pausa, tentar organizar as coisas em casa e depois, quando tudo está bem, aí sim, pensar em voltar a sair para ambientes liberais”.

Troca de contactos? Só entre pessoas do mesmo género

Um dos grandes receios de muitos casais que se aventuram no mundo do swing é que haja algum tipo de envolvimento emocional e que haja uma tentativa por parte de um dos elementos com quem se envolvem de levar esse contacto para outro nível, em particular num cenário em que o parceiro ou a parceira não esteja presente.

Para evitar este tipo de situações, Diogo diz que, quando ele e Joana entraram na comunidade liberal, seguiram o conselho de quem já sabia o que fazia. “Sempre nos disseram que, nos casos em que os casais decidem trocar contactos com outros casais, ou até com singles, a regra tem de ser clara: homens ficam com o contacto de homens, mulheres ficam com o contacto de mulheres”, revela, salientando “isto assegura que não há quaisquer mensagens ou chamadas com um elemento do sexo oposto quando o parceiro não está. Isto é muito reconfortante, já que além de impedir qualquer impulso irrefletido, é um elemento de segurança que reduz muito a questão dos ciúmes”.

Cada elemento do casal tem poder de veto

E no caso de os ciúmes existirem mesmo? Como se resolve isso? “Fácil: exercemos o nosso poder de veto”, explica Sara. À Kinks, Sara diz que esta é uma regra simples de explicar. “Se há uma pessoa de um outro casal ou um single que não me agrada, que não faz bem o meu tipo, explico ao Paulo a situação e as possibilidades de interação terminam logo ali”, revela, sublinhando que ambos os membros do casal já recorreram a esta regra em “várias situações” e que isso nunca foi um problema. “Aceitamos sem questionar o ‘veto’ do outro e afastamo-nos discretamente dessas pessoas. Não há dramas. Até porque o que não falta na comunidade swinger são pessoas compatíveis connosco”.

Adotem uma safe word

“Tem de ser uma palavra que não tenha nada que ver com sexo, como girafa, palmeira, semáforo, etc.”, revela Joana, que explica que o objetivo é que esta safe word seja conhecida apenas entre os dois elementos do casal e que seja usada em situações limite em que alguém não esteja confortável e precise de transmitir ao outro a necessidade de parar. “Assim que um diz esta palavra, o outro para imediatamente o que está a fazer e acaba tudo ali”, confirma Diogo.

“Claro que só usamos isto em situações limite porque sabemos que quando é usada, esta palavra é encarada com muita seriedade”, afirma Joana, recordando uma situação num clube de Lisboa em que estavam envolvidos com um outro casal, mas que as coisas não estavam a correr muito bem com o elemento masculino. “Não me estava a tratar mal, mas não me estava a deixar confortável. Tentei adaptar-me e ficar mais confortável, mas chegou a um ponto em que não estava a conseguir lidar com aquilo. Tentei chamar a atenção do Diogo mas ele estava demasiado ‘ocupado’ para perceber os meus olhares, por isso disse a nossa palavra em voz alta”. Resultado? “O Diogo parou imediatamente, veio ter comigo, não disse nada e apenas explicou ao outro casal que íamos para outro lado. Acho que eles não perceberam bem o que se passou e até é possível que tenham ficado aborrecidos, mas isto é mesmo assim. Andamos aqui para nos divertir, não para fazer fretes ou agradar a outras pessoas”, conclui.

Combinem gestos e toques para comunicar

“Este é um pau de dois bicos: por um lado serve para aquelas situações em que estamos com alguém que não nos interessa – ou pelo contrário nos interessa – mas não o podemos dizer na cara das outras pessoas. Mas também para tirar dúvidas sobre o que está a pensar o Paulo nestes momentos”, explica Sara, que revela que ao longo dos anos desenvolveu com o marido um sistema de comunicação não verbal que lhes permite “conversar à frente de outras pessoas sem dizer uma única palavra”.

“Por exemplo, um aperto leve na mão, no pulso ou na perna quando estamos perto de outras pessoas é um sinal de interesse da minha parte ou do Paulo. Se tivermos ambos interesse, o outro devolve o ‘aperto’. Isso indica que temos mais liberdade para avançar sem que ninguém se sinta melindrado”, revela, salientando que, “no sentido oposto, toques seguidos com os dedos, como que a chamar levemente, são um indicativo de que não nos queremos envolver com as pessoas com quem estamos a interagir. Portanto, aqui entra em vigor o tal poder de veto e o Paulo – ou eu – ficamos a saber que não é para dar continuidade à interação”. “Depois, quando estamos sozinhos, falamos sobre o que nos levou a agir daquela forma, mas assim não precisamos de dizer nada num momento que pode ser muito embaraçoso”, complementa Paulo.

Não fiquem presos a um só sítio ou comunidade

Diversificar, conhecer novos espaços e ver novas caras é essencial para manter a chama acesa no mundo do swing – sim, aqui também é preciso apimentar as coisas de vez em quando, confessam à Kinks estes casais. “Quando damos por nós, estamos há 2 ou 3 anos a caminhar para o mesmo sítio e a estar com as mesmas pessoas. Isso pode tornar-se tão rotineiro e aborrecido como a vida de casa”, explica Diogo, que diz que procura frequentemente novos locais para visitar com Joana. “Às vezes vamos a saunas, outras vamos simplesmente a outros clubes. O que procuramos, essencialmente, é ter dinâmicas novas, experiências novas e que nos deixem novamente ansiosos, porque isso significa uma maior excitação”, conta Joana, que defende que “é sempre bom ver caras novas e espaços diferentes. Quando isso acontece ficamos sempre com uma dose extra de excitação!”.

Não se esqueçam que há vida além do swing

“O swing não é a nossa vida, nem sequer é toda a nossa vida sexual”, afirma Sara. “É uma parte da nossa vida sexual enquanto casal e não deve ser mais do que isso. Quando vamos sair, vamos sair, mas quando não o fazemos somos um casal dito ‘normal’. Ou seja, temos os nossos filhos, a nossa família, os nossos programas românticos a dois”, sublinha, defendendo que saber manter este equilíbrio é essencial para “tudo o resto correr bem”. “É muito fácil, especialmente no início, deixarmo-nos levar por isto e quando percebemos só falamos sobre swing, só queremos sexo com swing e isso pode ser muito negativo para a relação do casal”, confirma Diogo, que diz que nas regras que estabeleceu com Joana, há dias específicos para se falar de sexo liberal e que, nos outros, isso “nem sequer é tema de conversa”.

Não misturem amizades com prazer

“Quando estamos num clube, num encontro, seja o que for no âmbito do lifestyle, sabemos que as coisas estão circunscritas àquela esfera. Até podemos saber alguns detalhes sobre a vida pessoal das outras pessoas, mas não interagimos com elas fora destes ambientes”, explica Paulo, que considera uma “péssima ideia” que os casais se envolvam com pessoas que façam parte das suas relações pessoais.

“Às vezes até pode parecer uma boa ideia, mas acreditem, na maior parte dos casos, não é. Há diferenças na percepção, normalmente as outras pessoas não estão familiarizadas como muitas das regras da comunidade e pode acabar por ser uma grande confusão”, frisa, recordando que “nestes casos, ao contrário do que acontece, por exemplo, num clube, não podemos simplesmente virar as costas e ir embora. Estamos a falar de pessoas que frequentam as nossas casas, que fazem parte da vida dos nossos filhos, com quem temos amigos em comum. Desfazer um erro destes pode ser complicado de gerir”. Uma visão que é partilhada pelos outros elementos liberais ouvidos pela Kinks.

“Amigos, amigos, swing à parte”, brinca Sara.

Mais Kinks