Revistas, polícia e perda do voo: o que pode acontecer se o seu vibrador se ligar dentro da sua mala
Acontece com muito mais frequência do que imagina. E, quando um acidente destes acontece, é um verdadeiro pesadelo que a pode deixar sem mala ou, no limite, sem viagem.
Imagine esta situação. Vai de férias e não quer passar pelo constrangimento de passar pela segurança do aeroporto com os brinquedos sexuais na sua bagagem de mão. Qual é a solução mais racional? Guardá-los na mala que vai despachar para o porão do avião, certo? Não necessariamente. É que, se tiver o azar de um destes brinquedos se ligar acidentalmente e começar a vibrar depois de o despachar no balcão de check-in, vai ter muitos problemas. Além de ser chamada a abrir a sua mala numa sala especial para o efeito, em frente a funcionários, seguranças e até polícias, corre o risco de ficar sem a bagagem ou, no limite, de perder o seu voo.
“Todos os itens que estejam a funcionar dentro de uma mala que vai para o porão de um avião têm o potencial de interferir com o funcionamento dos instrumentos da aeronave, por isso se não estiverem desligados, não podem entrar”, explica à Kinks um Técnico de Tráfego de Assistência e Escala (TTAE) do Aeroporto de Lisboa. “Isto aplica-se a todos os objetos e os brinquedos sexuais não são uma exceção”, adianta.
Segundo diz à Kinks este funcionário que está presente no momento do check-in e do embarque de cada voo, o processo está bastante bem definido: “se um objeto estiver numa mala que se destina ao porão de um avião e começar a vibrar, vai gerar um alerta quando passar no controlo de bagagem”. “Isso significa que, por questões de segurança, é necessário abrir aquela mala para verificar o que está a provocar a vibração”, adianta, sublinhando que “sem essa verificação, a mala não pode ser colocada no avião”.
A partir daqui, é sempre a descer. As regras ditam que apenas o proprietário da mala a pode abrir, por isso, o passo seguinte para as autoridades aeroportuárias é localizar a pessoa que despachou aquela peça de bagagem. Segundo o técnico ouvido pela Kinks, os funcionários tentam conduzir o processo de uma forma discreta. “Normalmente chamamos pela pessoa na porta de embarque e, quando a encontramos, explicamos que foi identificada esta situação e que precisa de ser resolvida”.
Numa sala específica para o efeito, é pedido ao passageiro que abra a sua mala em frente a funcionários do aeroporto, seguranças e polícia e identifique o objeto que está a causar a vibração.
Depois de identificado, o passageiro que é o dono da mala tem de ser conduzido à Sala de Reconhecimento, que fica no nível 6 do Aeroporto de Lisboa. Mas antes, é preciso ir buscar a mala ao local onde foi travada. “O normal é levar a pessoa numa carrinha, juntamente com um TTAE e um segurança, até à mala e verificar que se trata, efetivamente da mala daquela pessoa. Depois regressamos na mesma carrinha e conduzimos a pessoa à Sala de Reconhecimento”.
É neste momento que, habitualmente, a Polícia de Segurança Pública é envolvida. Nesta sala, é pedido ao passageiro que abra a sua mala – em frente a todas estas pessoas – e identifique o objeto que está a causar a vibração. “Depois de identificada a origem e desligado o aparelho, fica tudo resolvido. A mala pode seguir para o avião e o passageiro pode regressar ao processo de embarque”, frisa o funcionário à Kinks.
O problema é que este processo não é, propriamente, rápido. “A probabilidade de, enquanto se faz este reconhecimento, é passar demasiado tempo no processo e o avião que este passageiro ia apanhar partir sem ele”, assegura. Isso mesmo, pode ficar em terra. E sem direito a reembolso, uma vez que “a situação foi gerada pelo passageiro, ainda que inadvertidamente”. Ou seja, além de ter de mostrar uma peça da sua vida privada a um conjunto de estranhos, ainda corre o risco de perder o avião. Um verdadeiro pesadelo.
Então, e se o passageiro não quiser correr o risco de perder o avião, pode evitá-lo? “Tem sempre a possibilidade de escolher deixar a mala em terra e seguir viagem sem a bagagem”. “Damos sempre essa opção de escolha aos passageiros”, adianta aquele funcionário, explicando que, é isso que acontece sempre que não é possível encontrar o proprietário da mala antes do embarque: “se não for encontrado, a mala não segue viagem. Fica retida e pode ser reclamada pelo passageiro quando regressa da sua viagem”. Reconfortante, não é?
Mas não pense que este é um cenário limite. Pelo contrário: “este tipo de situações é muito frequente, acontece mesmo muitas vezes”, acrescenta aquele funcionário aeroportuário. E não são apenas os brinquedos sexuais que podem criar estes constrangimentos: máquinas de barbear, escovas de dentes elétricas e até hoverboards que sejam colocados na bagagem de porão podem conduzir a situações semelhantes.