Sexo com robôs pode ultrapassar as interações entre humanos até 2050

O exercício de futurologia tem como base o impacto da IA nas relações sexuais. Mas os modelos criados dizem que este é um cenário que é bastante provável.

O relatório The Future of Sex Report, publicado por Ian Pearson, defende que a maioria das pessoas vai praticar algum tipo de sexo virtual até 2030 e que, cinco anos mais tarde, a maioria possuirá brinquedos sexuais que interagem com o sexo em realidade virtual. Mas talvez a afirmação mais surpreendente deste relatório seja a de que, em 2050, “O sexo virtual com IAs ou robôs competirá com o sexo humano, mas os robôs serão caros”, afirma o relatório. “Poderá ser muito agradável e será perfeito para as pessoas que querem viver a sua derradeira fantasia sem todas as amarras e compromissos emocionais das relações reais”.

Se esta profecia – como tantas outras antes – se confirmar, veremos tornarem-se realidade cenários como os do filme “Her”, de Spike Jonze, que explorava um romance entre um homem e a sua assistente pessoal virtual, ou de “Demolition Man”, que analisava a forma como a tecnologia podia desempenhar um papel nas relações sexuais. Numa cena icónica do filme, a personagem interpretada por Sylvester Stallone faz sexo virtual com Sandra Bullock. Recorde-se que o filme passa-se no ano 2032, numa sociedade em que o sexo é considerado ilegal. Tendo em conta as últimas tendências em matéria de tecnologia sexual, o filme de Marco Brambilla previu corretamente o potencial deste tipo de tecnologia.

De facto, de acordo com o relatório 2024 Sex Trends, da marca de brinquedos sexuais Lovehoney, a IA que personaliza as experiências sexuais será fundamental. “A IA tem um grande potencial de personalização. Permite-nos interpretar dados e desenvolver respostas individuais com base em informações sensoriais, como a temperatura corporal e a pulsação, para as adaptar às necessidades do utilizador. Por exemplo, os futuros brinquedos sexuais poderão reconhecer se está a ter um orgasmo e, com base no seu comportamento, saber se deve aumentar ou diminuir a sua intensidade”, explica Fabian Schmolck, Gestor de Soluções de IA no Lovehoney Group e Womanizer.

“Atualmente, estamos a trabalhar em vários projetos para melhorar a vida sexual das pessoas. Por exemplo, estamos a explorar formas de utilizar a IA para recomendações personalizadas de produtos, prazer individualizado e chatbots educativos para falar sobre sexualidade, o que ajuda a capacitar as pessoas a explorarem-se e a compreenderem-se de novas formas”. E acrescenta: “Temos de falar sobre o facto de a sexualidade de cada pessoa ser diferente, o que leva a questões e necessidades específicas em termos de educação sexual, recomendações de produtos e experiências sexuais passadas. Com a investigação que estamos a fazer e já fizemos, exploramos o bem-estar sexual”.

Apesar de ainda estarmos longe do cenário em que os humanos são superados pelos robôs, já há algumas ferramentas que utilizam apenas a IA para dar algum tipo de prazer ou suporte emocional aos seus utilizadores, como é o caso da Bloom Chat. Esta aplicação nasceu como forma de dar resposta ao cansaço generalizado das aplicações de encontros e dos encontros em geral.

A App tem uma sala de chat virtual que permite aos utilizadores enviar mensagens sexuais a bots, que respondem com textos escritos e gravações com vozes personalizadas, de acordo com as suas respostas. “Todos os atores de voz que optaram por fazer parte deste projeto fizeram-no com entusiasmo após extensas conversas e planeamento com a equipa do Bloom”, afirma o site numa secção sobre preocupações éticas.

“Os futuros brinquedos sexuais poderão reconhecer se está a ter um orgasmo e, com base no seu comportamento, saber se deve aumentar ou diminuir a sua intensidade”

De acordo com Marc Rivero, Investigador Principal de Segurança da empresa de cibersegurança Kaspersky, a implementação de IA na moderação de conteúdos de sexo virtual apresenta alguns desafios éticos e técnicos. É por isso que, segundo ele, é importante encontrar um equilíbrio entre a liberdade de expressão, a proteção da privacidade dos utilizadores e um nível necessário de censura. “Tecnicamente, a IA deve ser capaz de distinguir entre consentimento informado e situações abusivas. No entanto, isto pode ser extremamente complexo, dada a subtileza das interações humanas”, explica.

“Os chatbots podem ajudar aqueles que não têm ninguém com quem falar sobre sexo e sexualidade. Além disso, as pessoas que sofrem de ansiedade podem sentir-se mais à vontade para fazer perguntas sobre sexo a um chatbot. É também imperativo que as empresas de tecnologia sexual garantam que a tecnologia complementa, e não ofusca, o lado humano da intimidade sexual”, adverte Fabian Schmolck.

“Embora a combinação da tecnologia com o bem-estar sexual abra as portas para experiências personalizadas e imersivas, é vital que nos lembremos do elemento humano da equação. As marcas devem continuar a concentrar-se na engenharia para garantir que o produto físico é tão útil como a tecnologia por detrás dele. Apesar de, tradicionalmente, pensarmos na tecnologia como algo relacionado com cabos, eletricidade e computadores, não é o único tipo de tecnologia que faz parte da tecnologia sexual. Os avanços na engenharia e no design através de testes e do feedback de utilizadores reais são inovações técnicas que ajudam os utilizadores a utilizar o seu brinquedo com maior facilidade e sucesso”.

Rivero argumenta que a IA se tornou um componente fundamental na moderação de conteúdos e na deteção de comportamentos abusivos online, incluindo na área do sexo virtual. “Graças aos avanços significativos no processamento da linguagem natural [PNL] e no reconhecimento de imagens, a IA será capaz de identificar e censurar linguagem inadequada, imagens explícitas não consensuais e comportamentos abusivos em tempo real”.

Esta prática de intervenção baseia-se em modelos que foram treinados com vastos conjuntos de dados rotulados. Desta forma, a IA é capaz de compreender e reagir a um vasto espetro de contextos. No entanto, a sua eficácia nestes domínios varia em função da qualidade e da diversidade dos dados de treino e da sua atualização para se adaptar ao calão e aos símbolos utilizados pelos utilizadores mal-intencionados para contornar as regras, diz Rivero.

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