Singles: por favor, comportem-se
A convivência entre casais e homens e mulheres sozinhas nos espaços liberais nem sempre é pacífica. E tudo poderia ser mais fácil se, pelo menos, houvesse um pouco mais de bom senso.
Aconteceu-nos há poucos dias, numa sauna mista de Lisboa. Estávamos sozinhos num dos espaços comuns, sentados a trocar carícias no escuro. Sem que nos apercebêssemos imediatamente, aproximou-se um homem sozinho – um single. Sem dizer nada, foi-se aproximando mais e mais, até estar a menos de um metro de nós. Mesmo depois de lhe termos transmitido um educado, mas veemente, “não estamos interessados, queremos estar só os dois”, o homem fez um movimento com o corpo que indicava que se preparava para se curvar sobre o corpo da June. E mesmo depois de ouvir um ainda mais sonoro e muito irritado “já explicámos que não estamos interessados” ainda teve a gigantesca lata de se aproximar mais e dizer: “só quero dar um beijinho”.
Como diria a personagem do Capitão Nascimento, em “Tropa de Elite”, nestas situações a solução é uma de duas: “ou a gente se omite, ou parte para a guerra”. No nosso caso, porque temos já experiência no meio, tínhamos acabado de chegar, queríamos desfrutar do (pouco) tempo juntos e, acima de tudo, não nos apetecia estragar a noite de todas as outras pessoas que, tal como nós, ali estavam para aproveitar a sauna, decidimos não partir para a guerra. Mas também não nos omitimos. Mostrámos os dentes sob a forma de uma linguagem corporal mais agressiva, o que acabou por afugentar o single atrevido e desprovido de noção do perigo.
Foi há dias e aconteceu connosco. Não foi a primeira vez. Não será, seguramente, a última. Sabemos que, infelizmente, este tipo de comportamento é frequente por parte de alguns – felizmente não muitos dos singles que frequentam estes espaços liberais em que casais e pessoas sozinhas se cruzam em momentos de intimidade. Mas, e se não tivesse acontecido connosco? Se em vez de nós, este comportamento tivesse ocorrido com um casal que estava a ter a primeira experiência numa sauna mista? Provavelmente seria a primeira e última.
Não estou a exagerar. Conhecemos vários casais que nos confidenciaram que nunca passaram da primeira visita a uma sauna mista ou a um clube que permita a entrada de singles. E que nunca irão voltar a um espaço com singles.
Contam-nos como se sentiram perseguidos pelos singles masculinos. Como não conseguiam estar em nenhum local sem que atrás viesse uma turba de homens, a acotovelar-se entre si, para ver quem conseguia um espacinho mais próximo do casal. E como alguns desses homens se aproximam ou tocam nas mulheres sem o seu consentimento e de como exibem atitudes que podem mesmo ser percepcionadas como intimidadoras, especialmente quando os seus avanços são rejeitados.
Volto a sublinhar: a nossa experiência diz-me que estamos a falar de uma percentagem minoritária dos singles que frequentam estes espaços. Na larga maioria das vezes em que somos abordados e não nos apetece interagir, nem precisamos de dizer nada – um simples sinal negativo com a cabeça basta para que os “singles do bem” se afastem. E também importa referir que o mau comportamento não é exclusivo dos homens portugueses: em Espanha ou Países Baixos, por exemplo, também já nos cruzámos com este tipo de “artistas a solo”.
Conhecemos vários casais que nos contam como se sentiram perseguidos pelos singles masculinos. Como não conseguiam estar em nenhum local sem que atrás viesse uma turba de homens, a acotovelar-se entre si, para ver quem conseguia um espacinho mais próximo do casal. E como alguns desses homens se aproximam ou tocam nas mulheres sem o seu consentimento e de como exibem atitudes que podem mesmo ser percepcionadas como intimidadoras, especialmente quando os seus avanços são rejeitados.
Parte de mim tenta compreender, de alguma forma, o que motiva estas atitudes comportamentos. Se pensarmos bem, quem paga 30, 40 ou 50 euros para entrar num espaço destes tem, seguramente, a expetativa de ver e participar em alguma ação. Se, em vez disso, passa três horas de toalha enrolada à volta da cintura, a percorrer quilómetros (literalmente) de um labirinto escuro à espera da oportunidade de algum tipo de interação com pessoas do sexo oposto, é natural que se vá sentindo cada vez frustrado e impaciente à medida que o relógio avança e a hora de ir embora se aproxima. Estes sentimentos não são, propriamente, amigos do discernimento, mas também não podem servir de desculpa para condutas inapropriadas.
Meus caros, se ainda não perceberam o que aqui está em jogo, eu explico. São estes comportamentos que afastam os casais dos espaços que permitem a entrada a singles. É por isso que cada vez menos vemos casais em saunas mistas fora de dias específicos em que os singles têm entrada barrada. E isso tem um efeito de bola de neve: menos casais, mais homens sozinhos, maior assédio aos poucos casais vai levar à extinção deste tipo de interações.
Mesmo nos casos em que os casais tenham disponibilidade e vontade de procurar um single para um trio, quem é que tem paciência para se arranjar e sair de casa para se ir aborrecer? Se não houver algum tipo de regulação – e esta pode e deve partir dos restantes singles presentes no sentido de controlar quem não se sabe comportar – dentro de pouco tempo, os espaços liberais que permitem a entrada de singles vão deixar de ser mistos e passar a uma grande festa da salsicha, carregados de homens frustrados de pénis murcho na mão, encostados às paredes de olhar mortiço e a controlar a porta como suricatas na savana, na esperança de ver entrar um casal que nunca chegará antes das luzes que indicam que é hora de ir para casa se acendam.
Mesmo nos casos em que os casais tenham disponibilidade e vontade de procurar um single para um trio, quem é que tem paciência para se arranjar e sair de casa para se ir aborrecer? Se nada mudar, dentro de pouco tempo, os espaços liberais que permitem a entrada de singles vão deixar de ser mistos e passar a ser exclusivamente frequentados por homens.
A verdade é que, na minha opinião, tudo se resume a uma questão de bom senso. Quando chegam a uma sauna, a um clube de swing ou a qualquer outro espaço, os casais precisam de tempo. Precisam de se habituar às luzes, ao ambiente. E muitas vezes precisam de estar sozinhos, a fantasiar e a combinar o que lhes apetece fazer. Se nos derem esse tempo e respeitarem o nosso espaço, tudo será mais fácil, garanto-vos. E isto é válido para os casais que querem estar com outras pessoas, para os que se querem apenas exibir ou, como tantas vezes acontece, para aqueles que estão ainda a dar os primeiros passos no meio e a tentar descobrir qual é a sua zona de conforto.
Quem também merece uma palavra sobre o tema são as singles femininas. Meninas: lamento desiludir, mas o simples facto de terem um pipi não vos torna automaticamente irresistíveis. E a forma como se pavoneiam não ajuda a aumentar o nosso interesse. Tal como no caso dos homens, há alturas em que não queremos estar com outras pessoas e não é o género que vai alterar esse sentimento. Não precisam de ficar amuadas nem bufar profundamente ao nosso lado, é só a vida a acontecer.
Meninas: lamento desiludir, mas o simples facto de terem um pipi não vos torna automaticamente irresistíveis.
Outro comportamento que é, para nós, inaceitável e um enorme turn-off, são as conversas de café em tom elevado nas zonas que estão reservadas para a sensualidade. O Benfica contratou um novo avançado? Ótimo, que marque muitos golos. Mas se não está ali para distribuir autógrafos, acalmem-se lá um pouco e vão falar para outro lado. Sabemos que os clubes e as saunas não são igrejas nem o silêncio é de ouro – felizmente. Mas os sons altos que esperamos e gostamos de ouvir nestes espaços são gemidos de tesão. Não as gargalhadas de galhofa entre compinchas de punheta.
Este é o nosso apelo. Queremos continuar a frequentar estes espaços e até gostamos de nos cruzar com singles. Mas dentro das regras de etiqueta, educação e bom senso que se espera em ambientes liberais. Acham que conseguem ajudar e comportar-se de uma forma mais decente?